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Monte Roraima

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A 1ª expedição em fevereiro de 2017

Com 8 dias e 5 noites no cume. Subida em 2 dias. 142km caminhados. Levamos nossa alimentação, nossas barracas e rádios. Contratamos guia e 4 porteadores, 1 de banho e 3 de apoio carregando 15kg cada. Equipamentos para cruzar o cânion da Proa: cordas, baudrier, freios, mosquetões, ascensores.

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Em 2010, após ver um artigo num jornal de SP e ouvir o relato de uma amiga que visitou o Monte Roraima iniciamos o planejamento desta aventura e a conseqüente descoberta de um verdadeiro mundo perdido, uma alusão ao famoso livro de Conan Doyle que no século XIX escreveu uma ficção sobre essa montanha, o livro The World Lost. Não havia dinossauros como conta o livro, mas cenários formados numa era remota, no pré-cambriano, a quase 2 bilhões de anos atrás quando na Terra havia um único continente, o Gondwana. O movimento das placas tectônicas deu início a formação da cordilheira dos Andes e dos tepuis, nome dado as essas montanhas em formato de mesetas. Nas centenas de milhões de anos que se sucederam, o fundo do mar emergiu criando os tepuis, quase uma centena deles, e no seu cume um habitat isolado por falésias de quase 1km de altura, propiciando o desenvolvimento de espécies, animais e plantas, que só existem ali e algumas consideradas até mesmo pré-históricas (do Eoceno).

Achamos na Internet muitas agências e guias oferecendo tours com pacotes variados, e muitos grupos e comunidades compartilhando informações dessa aventura. Todos ofereciam o roteiro clássico para visitar o Roraima, mas nós estávamos descobrindo locais e regiões que eram visitados por poucos. Conhecer o tepui implicava numa trilha em torno de 100km, dos quais quase 60 km eram para ir e voltar do cume, e o restante circulando pelo platô. Fomos então anotando todos os locais para visitar e procurando saber mais de cada um.

Num momento nos víamos fazendo uma pesquisa geológica, depois pesquisando sua biologia, os seus fenômenos meteorológicos, e finalmente chegamos no campo antropológico com suas lendas, o misticismo dos seus povos indígenas, os da etnia Pemón, seus mistérios e ficções atuais. 30% dos Pemóns viviam no Brasil e foram "empurrados" para a Venezuela no entorno do Monte Roraima, sua montanha sagrada, com a ocupação das suas terras e expansão urbana.

Criamos uma base de conhecimento valiosa que nos seduzia cada vez mais. Finalmente, em 2016 decidimos ir e compramos as passagens com 6 meses de antecedência. Nesse momento estávamos somente eu e a minha amiga Camila. Não contratamos nenhum pacote de turismo existente e nenhum guia inicialmente. Somos montanhistas e nosso roteiro e planejamento teriam de ser como todas as outras aventuras que fizemos. Então, criamos nosso roteiro exclusivo para ir a todos os possíveis locais. Tínhamos somente os 8 dias e as 7 noites disponíveis na semana do carnaval de 2017, alta temporada mas única data possível, e decidimos maximizar o tempo no cume. Então, planejamos a subida e a descida, ambos trajetos iguais, para fazer no mesmo tempo: em 1 dia e meio, ou seja, caminhar quase 30km em menos de dois dias. Isso já fazíamos no Brasil e confirmamos que muitos fizeram assim, ao contrário das agencias que oferecem uma subida ao cume em 3 dias. Pelo nosso plano, num trekking ao Monte Roraima de 8 dias, ficaríamos 6 dias no cume, sendo 4 full days e mais 2 half-days, dormindo no topo por 5 noites. As outras 2 noites seriam uma na ida e outra na volta, ambas nos acampamentos da trilha na Gran Sabana. O próximo passo era convidar outros amigos também montanhistas e que tivessem essa disposição de caminhada.

Vimos em vários relatos que alguns não se davam bem com a alimentação fornecida nos pacotes e outros a adoravam. Decidimos então que iríamos levar nossa própria comida e barracas, como habitualmente fazemos no Brasil, nas trilhas e montanhas que vamos. Então, primeiramente planejamos contratar o guia e o porteador (carregador) do banheiro portátil, pois lá existe uma norma de que devemos trazer de volta todos os dejetos biológicos. E na véspera contratamos mais 3 porteadores (cada um leva até 15kg) para reduzir o peso das mochilas. No fim, nossa expedição ficou composta de 11 integrantes: 6 amigos que já fizeram trilhas conosco, como a Serra Fina e outras, o guia, o porteador do banheiro e 3 porteadores de apoio. Fizemos nós mesmos as solicitações de autorização de visitação ao ParnaRoraima/BR, para ir na parte brasileira e ao InParques/VE, para ir no lado venezuelano, tudo via internet.

A definição do guia foi um momento a parte e especial. Já tínhamos feito o roteiro detalhado para os 8 dias e precisávamos garantir um guia que pudesse nos levar em todos os lugares listados. Descobrimos que a maioria deles não conhece toda a montanha e nem tem experiência em rapel e escalada, e nem os equipamentos que precisávamos. Soubemos por relatos que alguns guias dizem levar a todos os locais, mas mudam o combinado devido a diversos fatores, como o mau tempo. No misticismo da lenda do Roraima, o espírito de Makunaima habita o tepui e quando ele não quer que o visitem ele muda o tempo, e os pemóns o respeitam e não vão. Apresentamos o nosso roteiro a mais de 20 guias até encontrar um que nos atendesse plenamente.

Vimos em média, que somente 5 a 10 dentre 100 pessoas que visitam o Monte Roraima vão até o ponto norte e mais extremo, situado no território da Guiana, chamado de La Proa. Leva esse nome por parecer com a proa de um gigantesco navio singrando as nuvens, quando visto em fotos aéreas. La Proa está a uns 20km distante do ponto de chegada ao cume e para alcançá-la é preciso uma logística própria e vencer obstáculos dos mais variados, além de "ter a sorte" do tempo estar a favor. E, tendo chegado perto dela ainda temos de atravessar um cânion com pouco mais de 20m de altura, com fendas enormes, usando cordas e outros equipamentos, apesar de alguns descerem ali sem isso, pois os lances a vencer são em camadas de 2 a 5 metros em média. O premio para os que ousam chegar lá é uma vista deslumbrante da Gran Sabana com as cachoeiras do Roraima caindo desde centenas de metros e tirar uma foto inesquecível, ou encontrá-la num branco total dentro uma nuvem que não te deixa ver nada, com chuva fina e muito frio, situação que é a mais comum daquela região. Não existe um meio termo. Então, decidimos, queremos La Proa! Lá existem mirantes espetaculares. Há duas pontas de pedra onde se pode ficar sobre o abismo de 500 metros de queda livre vislumbrando as cachoeiras que caem do tepui. Mas tínhamos um problema: ninguém sabia onde esses mirantes ficam. Nem os guias que tínhamos feito contato! Teríamos de encontrá-los nós mesmos.

Partimos do Rio num vôo numa sexta feira cedo, chegando a Boa Vista pelo horário do almoço e lá encontramos os outros companheiros. Já tínhamos programado um taxi-lotação para 6 pessoas que nos pegou no aeroporto e partiu diretamente para Pacaraima, onde pegamos as autorizações no ParnaRoraima e depois cruzamos a fronteira, até o hotel em Santa Elena de Uairén. De noite fizemos a reunião com o guia e compramos moeda local, em bolsas enormes devido à desvalorização cambial extrema. No dia seguinte, bem cedo, partiríamos rumo a Paraitepui, onde se inicia a longa trilha. No caminho passamos em San Ignácio Uiurani, na sede do InParques, para pegar nossas autorizações e assinar um termo de responsabilidade. Tudo saindo como planejado.

Nesse dia caminharíamos 23km e dormiríamos no acampamento base ou no militar, ao lado do tepui. No dia seguinte subiríamos os últimos 4km de manhã bem cedo para chegar ao cume pelo horário do almoço e ir para um acampamento numa gruta, agora chamados de hoteles. Logo na subida, apelidada de La Rampa, passamos por um rio com poço de banho. Perto do final da subida encontramos uma cachoeira cujas águas se dispersam com uma chuva suave, local apelidado de Paso de Las Lágrimas. Logo depois estávamos no cume encontrando os primeiros monólitos zoomórficos, algumas plantas carnívoras e a famosa rãzinha preta. Cada rochedo era mais incrível que o outro, aparentando formas raras e às vezes com uma aparência tenebrosa, jamais vista em outros lugares, até chegarmos ao que seria nosso primeiro destino: o Hotel San Francisco, onde pernoitamos para sair bem cedo no terceiro dia com rumo ao Hotel Coati, 13km distante num sobe-e-desce pedras e também o acampamento base para todos os que planejam visitar La Proa. No caminho passamos por um dos vários vales de cristal que existem, por mais formações rochosas exóticas e pelo Punto Triple, que tem o marco da tríplice fronteira entre o Brasil, a Venezuela e a Guiana Essequiba, um local emblemático do Monte Roraima quase obrigatório para todos os que o visitam.

Encontramos o Hotel Coati vazio, montamos nossas barracas e preparamos o jantar. Fizemos nossa estratégia de 2 dias para visitar a Proa, o plano A no primeiro dia . E o plano B em caso de mau tempo. Assim, no dia seguinte, partimos bem cedo até a ponta mais extrema do tepui, La Proa. O caminho é sinuoso, em longos trechos se caminha pulando sobre pedras de meio metro a 2 metros de altura, lembrando aquele antigo game de computador, o Mário. Cruzamos por muitas colônias de plantas carnívoras (a Heliamphora) como pequenas florestas, passamos em frente a Los Laberintos, cruzamos o rio Salamandra onde mergulhamos ao voltar. Chegamos ao enorme Lago Gladys, de aparência insólita, que parece esconder um mistério de tão distante e isolado que fica. Logo após, cruzamos com os restos de um helicóptero que caiu ali e finalmente chegamos ao grande cânion que nos separa da Proa. Gigantescas pedras e fendas desafiam a nossa habilidade de descer. Localizamos o ponto de descida, passamos as cordas e todos de forma segura descemos um por um. A corda principal ficou posta para a usarmos no retorno e levamos a segunda corda para subir no outro lado do cânion. Vencido o desafio finalmente estávamos na Proa onde na ponta mais estreita tem um totem e as inscrições Bienvenidos a la proa. Conseguimos algumas fotos, porém o tempo logo se fechou, começou a chuva e o frio, e sem saber se aumentaria ou não, decidimos retornar sem encontrar os mirantes. Depois de cruzar o cânion, já no fim da tarde a chuva se transformou em tempestade com vento alagando a trilha e foi assim noite adentro. Todos chegaram encharcados ao Hotel Coati, onde passaríamos mais uma noite. Nesse dia chegou outro grupo planejando ir a Proa no dia seguinte.

No dia seguinte, 5° dia da expedição, surgiu o melhor momento daquela semana com um céu azul de brigadeiro e muita visibilidade. Decidimos mudar o roteiro e voltar na Proa para encontrar os mirantes. Mas, não tínhamos mais as nossas cordas e equipamentos de escalada, que tinham seguido com os porteadores para o próximo acampamento, o Hotel El Índio. Nossa estratégia para garantir lugar nos acampamentos era enviar os porteadores muito cedo com as nossas barracas para o próximo hotel (grutas) enquanto estávamos visitando o tepui e, quando chegássemos ao fim do dia, teríamos lugar garantido para pernoitar. Isso deu certo todos os dias e nos comunicávamos com rádios, que quase todos levaram. Assim, chegamos novamente ao cânion da Proa no segundo dia, mas não podíamos atravessá-lo, pois não tínhamos as cordas e vimos claramente um dos mirantes do outro lado. A frustração tomou conta de todos. Procuramos várias formas de cruzar, mas era mesmo muito arriscado, e uma queda poderia ser fatal. Mas, esse mirante era o maior dos dois, onde várias pessoas poderiam ficar sobre nele. Havia outro, mais radical, onde se fica praticamente sozinho sobre o abismo vendo as cachoeiras ao lado e a Gran Savana e a Floresta Amazônica na frente. Tínhamos de encontrá-lo e por sorte nossa, sabíamos que esse era antes do cânion. Nosso grupo de 6 se dividiu e todos foram caminhar perto da borda para encontrar esse local mágico. Em uma hora de busca a Maria Wünsch deu o alarme: encontrei!... E todos foram para lá... Realmente, chegamos numa extremidade do abismo de dar um frio na barriga, tremer as pernas e acelerar os batimentos, mas a vista era espetacular: encontramos o mirante de pedra com a cachoeira do rio Salamandra caindo ao lado. E, começou a sessão de fotos tentando todos encontrar o ângulo correto. Existe uma ilusão de ótica, pois se cair ali não é uma queda abissal de mais de 500 metros como parece, mas de uns 50 metros somente. E nem precisamos nos amarrar em cordas para sentar na ponta, pois a pedra era áspera e não escorregava. Cumprida a missão iniciamos o retorno que nos levaria ainda a outros locais especiais. Nesse dia fizemos nosso recorde de trilha: um total de 36 km caminhando sobre o tepui.

Nas pesquisas descobrimos (pasmen!) que o Monte Roraima é como um gigantesco queijo suíço perfurado de túneis e cavernas com uma região denominada de Monte Roraima Sur tendo ela 10.820 metros de extensão por onde circulam vários rios subterrâneos. Nele existe a maior caverna de quartzo do mundo, La Cueva Ojos de Cristal descoberta em 2003 (1). Podemos literalmente andar quilômetros e quilômetros por dentro da montanha, saindo em cânions e em ventanas no rochedo, em mirantes, com desníveis de mais de 70 metros. Podemos acampar em salões dentro dos túneis e tomar banho em piscinas subterrâneas. Mas, nenhum roteiro para entrar no mundo subterrâneo do tepui é oferecido pelas agencias e guias. Havia somente alguns poucos relatos, alguns vídeos e fotos de pesquisas científicas. Isso bastou para decidirmos visitar essas cavernas e túneis e fomos atrás de alguém que conhecesse suas entranhas. Nenhum guia da região tinha entrado pelos túneis ou conhecia muito, mas alguns ouviram falar ou chegaram à entrada que é feita pela Cueva de Los Guácharos, caverna esta que fica perto do Hotel Guácharo. O guácharo é uma ave cavernícola, noturna e frutívora, que se utiliza de ecolocalização para se orientar na escuridão. De espécie única, tem origem no Eoceno, a 50 milhões de anos, um dos animais dali que poderíamos verdadeiramente chamar de pré-históricos do Monte Roraima. Os guias nativos e os pemóns também têm medo de entrar nas profundezas das grutas e crêem na lenda dos Amairoks, seres pequenos como duendes que habitariam suas profundezas e vários nos relataram que já os viram. Isso dificultou nossa estratégia. Contudo, tínhamos feito contato com dezenas de guias e um deles, de Caracas, era geólogo e as pesquisas do seu mestrado em espeleologia foram no Roraima, então, não havia dúvidas que ele seria nosso guia. Planejamos inicialmente caminhar pelos túneis por algumas centenas de metros e acessar um mirante, una ventana. Havia, porém outra rota que nos levaria pelos túneis até a Gruta Ojos de Cristal, mas esta era mais longa, com 2,5km pelas profundezas. Dentro dos túneis existem além dos rios subterrâneos, grandes desníveis, é preciso levar equipamentos e cordas. No dia de entrar na gruta o guia explica que precisaríamos de pelo menos 20 dias (!) para explorar as grutas tal era a dimensão delas, havendo em torno de 17km de túneis. Então, entramos pela Cueva de Los Guácharos, somente até cerca de uns 200 metros, onde havia uma piscina. Foi assim mesmo uma experiência a parte no nosso trekking.

Relatam que antigamente eram vistos Guácharos na gruta mas hoje eles não mais são encontrados por ali e parece que se mudaram para um local mais isolado e chamado de Canion de los Guácharos, então fomos até lá vê-los de perto. O cânion fica na borda leste do tepui e tem uma profundidade entre 70 e 100 metros. De alguns mirantes da borda conseguimos visualizar os ninhos e os casais de Guácharos, que parecem de longe como uns pombos gigantes.

Durante as pesquisas, obtivemos diversos tracklogs das trilhas feitas pelo cume. Criamos um networking com inúmeros amigos que já foram, anotando tudo, cada local e situação. Pelos mapas vimos que existem as trilhas clássicas pelos pontos mais conhecidos, mas o platô é muito maior e mais extenso, e há lugares aonde quase ninguém vai. Assim identificamos uma região isolada no território da Guiana chamada de Los Laberintos. É uma região quase triangular com pouco mais de 7km no seu lado mais extenso, composta de gigantescos monólitos, com alturas variando de 5 a mais de 15 metros, erodidos pelo vento e chuva em milhões de anos e onde se caminha em zig-zag no meio deles, como num enorme labirinto pois, por serem muito altos, não permitem visão do local de onde viemos e ou para onde estamos indo. É preciso caminhar com bússola, pois a sensibilidade do GPS também fica comprometida em alguns pontos e há relatos de que muitos já se perderam ali. Para visitá-lo por completo precisaríamos dedicar um dia inteiro, e considerar um possível pernoite por lá, mas não tínhamos esse tempo, pois já tínhamos dedicado 2 dias para garantir a ida na Proa. Então, somente passamos em frente e o colocamos na lista dos locais a visitar na próxima vez.

Como estamos fazendo o projeto de visitar os 10 picos e montanhas mais altas do Brasil, e o Monte Roraima faz parte dessa lista, tínhamos de encontrar o local exato. O local mais alto do tepui fica junto ao Maverick, mas esse está no território venezuelano, não está no Brasil. O ponto mais alto do território brasileiro está em outra montanha no caminho para a Proa. Poucos vão ali e não há uma trilha muito definida e tampouco um tracklog preciso. Felizmente nosso guia conhecia a trilha e fomos lá, escalaminhando o rochedo sem olhar para trás e no cume encontramos as marcas do IBGE e um pequeno obelisco que lembra o ponto triple, onde indicava ser o topo. Não poderíamos dizer que estivemos no ponto mais alto sem ir nele de fato. Atualmente o IBGE redefiniu sua altitude como sendo 2.734,05m e o Monte Roraima ocupa a 7ª posição na lista (2).

Outro local emblemático do monte Roraima é o chamado de El Foso, uma enorme cratera formada pela erosão das águas e criando uma piscina para depois seguir por um rio subterrâneo. Fizemos a descida por trás, sem cordas e escalaminhando as pedras de forma um pouco perigosa. Na caverna encontramos areia fina como de uma praia e águas não tão frias como pareciam e, claro, o mergulho para revigorar as energias foi imprescindível.

Ao caminhar no Monte Roraima cruzamos desde o primeiro momento por enormes monólitos zoomórficos e antropomórficos como os golfinhos, a tartaruga (la tortuga), o pequeno elefante, rostos e figuras humanóides, criando um ambiente de mistério e realismo fantástico na montanha. Há um local onde você se depara com enormes pedras com o formato alienígena de um filme de ficção científica e difícil é passar por elas sem fotografá-las.

No cume encontramos diversas espécies de animais e plantas. Vimos um quati, tico-ticos, borboletas, ratos, a Oreophrynella, minúscula e bela rãzinha preta. Vimos extensas colônias de plantas carnívoras como a Heliamphora e outras que lembram bromélias como a Stegolepis cujo broto é comestível. Nos alagados vimos outra planta carnívora, a Utricularia que com suas raízes captura pequenos organismos vivos como vermes.

Outros pontos de visitação especiais foram as piscinas de água cristalina cercadas de cristais de quartzo apelidadas de Jacuzzis que ficam no lado venezuelano e no caminho para La Ventana, que mesmo com água muito fria são imperdíveis.

Na borda sul do Roraima, em frente ao Kukenan existem dois mirantes, um deles é a famosa La Ventana de onde podemos ver na beira do abismo a belíssima cachoeira principal do Kukenan, coberta e descoberta a todo o momento pelas nuvens.

Contratamos o guia e porteadores diretamente, não para economizar, mas porque fizemos o nosso próprio roteiro e precisávamos encontrar quem pudesse nos atender, pois queríamos nos 8 dias do trekking aproveitar o máximo do que a montanha poderia nos dar. Assim, ficamos amigos dos porteadores, que nos acompanharam como fiéis companheiros de aventura. Um deles era o guarda-parque responsável do InParques em Paraitepuy e visitou a Proa conosco. No retorno, fizemos um almoço de despedida no melhor estilo da gastronomia Pemón: Tumá de Saltamontes com Termitas e Tumá de Pescado con Bagre. Saltamontes são gafanhotos e Termitas são cupins. Também provamos el Picante de Termitas com Casabe que tem um sabor delicioso, não posso negar. Casabe é feito de farinha de mandioca. No caminho, nossos amigos pemóns foram num ninho de vespas e pegaram um pedaço para provarmos outra iguaria: las Larvas de Avispa. Conhecemos o Cachiri, uma bebida feita a partir da mandioca fermentada. Nossa expedição não estaria completa se não provássemos um pouco da cultura indígena pemón, afinal o Monte Roraima está dentro do território deles. Podemos dizer que a aparência dos Saltamontes com Termitas lembra talvez aos camarões que estamos acostumados a comer. O único momento desapontador foi quando soubemos que do valor pagamos aos porteadores, 100% não foi para eles.

Nosso valente grupo caminhou por 142 km nessa aventura e foi composto por dois associados do CEB, o Erick Edgar Aliaga Sanz, empreendedor e consultor de TI e a engenheira florestal Helena Kiyoe Ito, e mais a publicitária Camila Coubelle Sophia, os biólogos Lúcio Lima e Alexandre Barreiros e a engenheira ambiental Maria Wünsch. Todas as dicas e contatos da nossa expedição podem ser obtidos no blog Vida Sem Paredes (³) da Camila. A sensação é de que vimos somente a ponta de um iceberg e trouxemos o desejo de voltar ao Roraima e visitar os outros tepuis.

Principais referências

(1) Cueva Ojos de Cristal, 2003 https://es.wikipedia.org/wiki/Cueva_Ojos_de_Cristal
(2) Geociências: IBGE revê as altitudes de sete pontos culminantes, in:
http://www.inde.gov.br/noticias-inde/8530-geociencias-ibge-reve-as-altitudes-de-sete-pontos-culminantes.html, 2015
(3) Como contratar o trekking no Monte Roraima com Guias, Blog Vida Sem Paredes, 16/03/2017. http://vidasemparedes.com.br/como-contratar-trekking-monte-roraima-com-guias/
(4) Geologia Venezuelana. http://geologiavenezolana.blogspot.com.br/p/mapas-geologicos.html
(5) Cueva Ojos de Cristal - Roraima 2005. http://audy.speleo.cz/Roraima/engl.html
(6) Yearnings for Guácharo Cave: Affect, absence, and science in Venezuelan speleology. https://www.researchgate.net/publication/301733161_Yearnings_for_Guacharo_Cave_Affect_absence_and_science_in_Venezuelan_speleology
(7) THE LOST WORLD, Venezuela's Ancient Tepuis. http://www.lastrefuge.co.uk/data/articles/tepuis/tepuis_Main.html


Álbum das fotos da expedição Monte Roraima, até a Proa: https://www.flickr.com/gp/148695069@N02/1F05n7